A análise estilística da Igreja da Misericórdia – tardo-barroca e rococó – torna clara uma profunda remodelação na segunda metade do século XVIII, provavelmente em 1776, data inscrita na verga do portal da fachada principal.

A Igreja é precedida de um pequeno adro murado, com escadas de acesso, de lajeado antigo.

Apresenta planta retangular longitudinal, com a fachada principal desenvolvida para Nascente.

À esquerda da Igreja encontra-se a Casa do Despacho, precedida por um alpendre adoçado à fachada, assente em colunas toscanas.

Possuí porta secundária na fachada lateral voltada para a Rua Dr. Torres Paulo, onde se encontra também a sineira.

A fachada principal apresenta uma porta de perfil clássico, encimada por um janelão de cantarias trabalhadas.

O janelão é de feição barroca, sendo rematado por frontão de cornija em chaveta e vertentes decoradas por festões de folhagem de palma.

Sobre o frontão assenta a Cruz de Avis, acima da qual está colocada uma cartela, contendo a figura de uma ave (identificada oficialmente como um pelicano), rodeado por resplendor, encimado por plumas e envolto pela seguinte inscrição latina:  misericordia et veritate redimatur iniquitas (que significa misericórdia e verdade redimem a iniquidade).

No eixo da fachada rasga-se um portal de verga arquitravada e a fórmula latina: Spiritus Domini replevit orbem terrarum alleluia. Veni Sancte Spiritus, reple tuorum corda fidelium et tui amoris in eis ignem aecende, (que significa vinde Espírito Santo e renovareis a face da terra)

A nave única da igreja é coberta por teto de 3 planos em madeira. 

O retábulo da Capela-mor, que encima o altar mor, é atribuível à segunda metade do século XVIII, sendo composto por duas colunas de mármore encimadas por dois anjos, esculturas em estuque.

A tribuna é fechada por uma pintura a óleo sobre tela de grandes dimensões, da mesma época, representando o Pentecostes.

A tela esteve exposta na exposição Capela-Múndi, comemorativa do Centenário da Construção da Capelinha das Aparições, que decorreu em Fátima entre dezembro de 2018 e outubro de 2019.

A abobada e as paredes da Capela-mor apresentam decorações em estuque, sob a égide da pomba do Espírito Santo.

As paredes da Capela-mor integram quatro baixos-relevos em estuque, baseados na iconografia Mariana, com ciclos de vida da Virgem.

Visitação

Fuga para o Egito

Anunciação

Casamento da Virgem

As capelas colaterais são trabalhos regionais setecentistas, de inspiração rocaille, em pedra calcária policromada.

 

O altar do lado do Evangelho é dedicado a Nossa Senhora da Piedade, imagem do século XVII, de grande tradição devocional na Vila.

 

O altar do lado da Epístola é dedicado a Nossa Senhora da Conceição e contém uma elegante imagem da Padroeira de Portugal, também da mesma centúria.

O púlpito, localizado do lado do Evangelho é um trabalho de cantaria de caixa quadrangular, assente numa coluna central de secção quadrada.

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O interior da Igreja é decorado com um silhar de azulejos de padronagem policroma seiscentista, rematado por uma cercadura.

Na nave da Igreja e junto à porta secundária da Igreja foi recentemente colocada uma lápide encontrada na Igreja, memória de capela instituída por Leonor Valadares e provavelmente desmantelada durante as obras do séc. XVIII. Contém inscrição do seguinte teor: Capela a q se obrigou esta caza por doação de sinco mil cruzados q lhe dotou a instituidora Leanor Nugueyra de Figueyredo em 26 de Mayo de 1718.

À Capela Mor da igreja adossa-se a Sacristia, do lado do Evangelho.

A Sacristia dispõe de lavabo em calcário, com motivos vegetalistas.

A sacristia comunica com a antiga sala do cartório, atualmente utilizada para reuniões.

Da sala do Cartório acede-se à Casa do Despacho, que tem também porta para o exterior e ligação ao coro alto.

No andar inferior do edifício, sob a sacristia e casa do despacho, está uma ampla sala com 3 espaços autónomos. Numa das paredes deste espaço está colocado um painel de azulejos com uma representação do brasão da Misericórdia de Alcanede e referência às suas datas de instituição e reativação.

Carreta funerária

Símbolo da obra de Misericórdia de enterramento dos mortos e da ancestral presença da Misericórdia de Alcanede na altura do passamento dos membros da nossa comunidade (que ainda hoje perdura), a carreta funerária foi restaurada em 2018.

Fontes principais:

  • Nova Monografia de Alcanede, João Duarte Melo Ataíde e Luis Duarte Lopes de Melo, 2005 ed. Autores
  • Kit 06 – Património Arquitetónico – Igrejas de Misericórdia – IHRU e IGESPAR, 2010
  • Igreja da Santa Casa da Misericórdia de Alcanede. SIPA (Sistema de Informação para o património arquitetónico), Direção Geral do Património Cultural, IPA 00006796
  • Créditos fotográficos: Rolfoto e Luis Duarte Melo